top of page

Os empregados para o centro do debate.

  • Everton Bazaglia
  • 16 de out. de 2017
  • 3 min de leitura

O governo Temer recentemente atingiu recorde de reprovação. Segundo pesquisa CNI/Ibope, em setembro 77% da população considerou seu governo ruim ou péssimo, enquanto apenas 3% considerou sua gestão como boa ou ótima. Além disso, apenas 8% dos entrevistados consideravam seu governo melhor que o de Dilma Rousseff, enquanto 59% afirmaram que seu desempenho era pior que o do governo anterior.


Em editorial publicado no dia 02 de outubro, o jornal o Estado de São Paulo afirmou que esses números “não encontram correspondência com a realidade, sob nenhum aspecto”. O jornal cita como exemplo da melhora incontestável da economia sob o governo Temer a queda da taxa Selic, que saiu de 14,25% para 8,25%, e a queda da inflação, que era de 9,3% em abril de 2016 e deve encerrar este ano em torno de 3%.


A taxa Selic e o índice oficial de inflação (IPCA) dificilmente serão os indicadores econômicos que mais de perto acompanham a popularidade de um governo. O mercado de trabalho, me parece, é mais adequado para esse tipo de aproximação e deve refletir melhor o humor da população para com seus governantes. E, nesse ponto, os dados depõem largamente contra Temer. Não apenas pelos 13,1 milhões de brasileiros desempregados. Na verdade, gostaria de trazer para o centro do debate a outra ponta, os empregados.


Eles são 91 milhões. O salário médio desses 91 milhões de trabalhadores brasileiros ocupados é de R$ 2.044 por mês. No último ano esse salário cresceu 4,3%, portanto, era de R$ 1.959 em agosto do ano passado. O que quer dizer que na hora de gastar o dinheiro, esse salário enche o carrinho de supermercado um pouco mais do que há um ano, mas num nível quase imperceptível.


Obviamente esses números dizem respeito à média de uma população bem diferente entre si, por isso é conveniente dividir esses 91 milhões de trabalhadores em grupos distintos. O IBGE tem um modo interessante de fazê-lo: por categorias. Gostaria de olhar mais de perto quatro delas.


Em um extremo estão os empregadores, a elite do mercado de trabalho brasileiro. Eles são uma categoria pequena, de apenas 4,2 milhões, mas têm os maiores rendimentos, com média de R$ 5.475 por mês. Mais importante, seus rendimentos crescem 10,9% ao ano. Os ventos estão favoráveis para os empregadores.


Na outra ponta há três categorias: os trabalhadores por conta própria, que ganham em média R$ 1.532 por mês; os trabalhadores do setor privado sem carteira assinada, com ganhos um pouco menores, R$ 1.206 por mês; e, no fim da fila, o trabalhador doméstico que, apesar do nome, é composto majoritariamente por mulheres que trabalham como domésticas e que têm os menores rendimentos dentre todas as categorias, de apenas R$ 836 por mês, menos de um salário mínimo. Juntas, essas três categorias somam 39,7 milhões de trabalhadores, cerca de 44% de toda a força de trabalho brasileira.


Os ventos não são tão favoráveis para esses trabalhadores. As domésticas (trabalhador doméstico) viram seus rendimentos crescerem 3,2% neste último ano, muito próximo à inflação do período. Os rendimentos dos trabalhadores do setor privado sem carteira assinada, que vivem com R$ 1,2 mil por mês, tiveram alta de apenas 0,4% nesse período. Já os trabalhadores por conta própria (R$ 1,5 mil) viram seus rendimentos nominais cresceram apenas 0,2% nesse último ano, muito próximo da estagnação, mesmo sem descontar a inflação.


O mercado de trabalho brasileiro está se tornando mais desigual. Os que estão na frente estão correndo mais, os que estão atrás quase não conseguem sair do lugar. Em tempo, a reforma trabalhista entrará em vigor em novembro.


Não é fácil explicar a popularidade de um governo, ou a falta dela, apenas por indicadores econômicos. Mas quem se aventurar a fazê-lo, deveria começar pelos indicadores mais concretos possíveis. O mercado de trabalho é uma boa aposta. Os empregadores representam 4% da força de trabalho brasileira, muito próximo aos 3% de aprovação do governo Temer.


O Editorial do Estadão: <http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-unanimidade-contra-temer,70002023348?>.


Everton Bazaglia é colaborador para o Caderno sem Pauta.

 
 
 

댓글


Leitura Recomendada
Procurar por Tags
Siga Caderno sem Pauta
  • YouTube Social  Icon
  • Facebook Social Icon
Doar com PayPal

Visto em

    Gostou da leitura? Doe agora e me ajude a proporcionar notícias e análises aos meus leitores  

© 2023 por "Pelo Mundo". Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page